Negligenciamento na cultura de proteção contra explosão. Moinhos tem alto risco de acidentes .
Negligenciamento na cultura de proteção contra explosão
Por Edmilson Pecosqui - General Management, Innovation, Leadership
Recentemente recebi uma ligação de um cliente preocupado com a possibilidade de ter ocorrido uma explosão no processo de fabricação de cerveja. Ora, como assim? Possibilidade?
Agendei uma visita para verificar o que tinha ocorrido e para minha surpresa havia ocorrido uma explosão no moinho de malte. Por sorte ou ajuda divina, a onda de energia foi direcionada para um transportador, que teve suas tampas arrancadas.
Nesse ponto é que a sorte entra. A onda de energia criada por uma explosão de pó é extremamente perigosa para equipamentos e pessoas que estejam próximas. No caso em questão, a sorte ajudou a todos. Nenhuma pessoa se machucou ou nenhum equipamento foi danificado gravemente. Apenas as tampas do transportador é que precisaram de reparos.
Ao analisar o ocorrido, identificamos que um rolamento do moinho estava danificado e que provocou o superaquecimento do rolamento e do eixo. Em um ambiente tomado por poeira de grãos, bastou um ponto de alta temperatura para provocar a combustão e a explosão.
Nesse cliente, como em tantos outros, o investimento em proteção contra explosão vinha sendo postergado por anos. A cultura de que esse tipo de proteção é muito caro ainda permanece nas empresas brasileiras. O curioso é que empresas multinacionais que investem constantemente em segurança dos processos em outros países não tem a mesma postura no Brasil.
Quando olhamos para a explosão de poeira, a história nos mostra que melhorias incrementais resultaram em processos mais seguros. De fato, nos últimos 55 anos, o número de mortos tem sido constante - assim como o número de acidentes. Isso significa que, mesmo com todos os avanços de engenharia que foram feitos, os funcionários precisam estar cientes e seguir todos os procedimentos de segurança para tornar os sistemas seguros.
Moinhos são uma fonte de alto risco de explosão, assim como os elevadores de caneca. São equipamentos mecânicos em movimento constante e com atrito entre seus componentes.
Ainda no Brasil, o foco principal tem sido os filtros de mangas. Realmente são outro equipamento com risco de explosão, mas que muitas vezes são negligenciados por fabricantes e usuários. Felizmente aumentou a consciência de instalação de membranas de alívio nos filtros, mas sem uma análise mais profunda do processo. A membrana por si só não protege o todo. Tubulações e equipamentos anexos aos filtros não são protegidos com isolamento da explosão e, em casos mais grosseiros, as membranas são instaladas em filtros dentro de prédios sem o devido elemento de abafamento da explosão. Nestes casos, caso houver uma explosão, a membrana se rompe e a bola de fogo é lançada para dentro do prédio. As consequências podem ser catastróficas.
O ponto chave nessa discussão é a disseminação de conhecimentos com fabricantes de equipamentos, usuários e autoridades locais. A valorização dos setores de segurança industrial das empresas é de extrema importância. Muitos tem a tendência de achar que que o “pessoal da segurança” é chato, mas todas as ações visam a segurança de funcionários e terceiros.
A mitigação dos riscos começa com observação dos processos e a informação destes para a liderança e segurança industrial. A partir dai, ações devem ser tomadas com o intuito de evitar prejuízos maiores e paradas de produção desnecessárias. Uma explosão pode provocar desde uma parada temporária do processo até a destruição total de uma empresa. Vide os casos notificados anualmente pela OSHA.
E lembremos...processo parado é prejuízo!